Segue-se um texto juntamente com imagens sobre Carcinoma Espinocelular (CEC), cedido gentilmente pelo colega Ricardo Felisberto.
Carcinoma Espinocelular
É o tumor maligno de pele mais frequente nos gatos e o segundo mais comum dos cães (depois do mastocitoma). É mais frequente o seu aparecimento em pele danificada pelo sol, podendo ser precedido por Queratose Actínica.
Nos gatos a localização mais comum é no plano nasal, pálpebras e pinnae, sendo o risco treze vezes superior em gatos brancos. Nos cães afecta principalmente zonas do abdómen ventral e região ventral dos flancos. Raças predispostas incluem o Dálmata, Pit Bull Terrier e Grand Danois. As metástases são raras contudo pode haver envolvimento dos gânglios linfáticos regionais na forma oral deste tumor.
Existe também o designado Carcinoma in situ ou Carcinoma de Bowen (síndrome de Bowen) a qual está fortemente relacionada com a exposição solar exagerada (o que pode induzir lesões cutâneas pré-neoplásicas, tais como, Queratose Actínica, Comedões Actínicos, Elastose Solar), além disso, em medicina Humana, foi comprovada a correlação desta doença com infecção por Papillomavirus.
Esta doença é caracterizada pelo aparecimento de múltiplas lesões cutâneas semelhantes ao Carcinoma Espinocelular, porém de dimensões inferiores à lesão principal (Dá-nos a ideia de uma neoplasia que metastizou para várias regiões da pele). Em gatos esta síndrome é relativamente comum, porém em cães, existe até então, um único caso descrito na literatura. Em cães a correlação com exposição solar excessiva pode justificar a etiologia do Carcinoma in situ. A infecção por Papillomavírus pode não ter grande significado em cães, dado que este vírus é de certo modo comensal na pele dos mesmos. Contudo, não se descarta a hipótese de estirpes de Papillomavirus humanas poderem infectar os cães e estes desenvolverem Carcinoma in situ consequentemente. Mais estudos são necessários para comprovar esta teoria.
Dada esta informação, quando se suspeita de Carcinoma Espinocelular, deve-se ter em conta o seguinte diagnóstico diferencial:
- Lesão Traumática;
- Pioderma Localizada;
- Dermatofitose;
- Demodecose;
- Infecções subcutâneas (Possíveis etiologias: Bacteriana; fúngica)
Deve-se ainda salientar que, por melhor que seja um médico veterinário na área da Dermatologia, apenas a experiência lhe pode indicar que uma lesão cutânea se assemelha a um Carcinoma das Células Escamosas.
O diagnóstico faz-se por Histopatologia ou Citologia, seja através de biopsias cutâneas ou a recolha de toda a neoplasia com amplas margens. O exame citológico é menos sensível e específico para o diagnóstico de CEC, contudo pode-se revelar um excelente auxiliar na prática clínica. A histopatologia é o melhor meio de diagnóstico para este tumor, indicando o grau de invasão para os tecidos adjacentes.
Algumas imagens microscópicas da lesão, cedidas pelo colega Ricardo Felisberto:
Relativamente ao tratamento aplicado:
De acordo com o grau de invasão tecidular e com a existência de metástases à distância, o tipo de tratamento varia. Tendo como possíveis tratamentos:
- Cirurgia (remoção da lesão neoplásica primária com amplas margens; amputação de membros caso os dígitos sejam a região corporal afectada);
- Terapia Fotodinâmica;
- Radioterapia (radiação de megavoltagem ou hipofraccionada);
- Terapia com Laser e Criocirurgia (para lesões de pequenas dimensões e em estadio inicial);
- Estudos recentes tentam demonstrar a elevada eficácia dos anti-inflamatórios inibidores COX-2 na regressão deste tipo de tumores.
Pontos-Chave:
- Biopsia
- A maioria dos CEC não metastizam à distância, porém podem ser localmente invasivos, deve-se estadiar o grau de invasão antes de iniciar o tratamento.
Glossário:
Comedão (plural = Comedões) - é um tampão folicular da camada córnea e de sebo seco num folículo piloso.
Demodecose - sinónimo de Sarna Demodécica.
Dermatofitose - infecção da camada córnea da epiderme, pêlos ou unhas causada por fungos do género Microsporum, Epidermophyton ou Trichophyton.
Queratose - é um foco papular circunscrito, incomum a raro, de queratinócitos proliferativos cobertos pela camada córnea da epiderme.
Queratose Actínica - queratose causada pela exposição solar, sendo considerada uma lesão pré-cancerígena.
Fontes:
1. Cross T, Iherke P, Walder E, Affolter V. Skin Diseases of the Dog and Cat Clinical and Histopathologic Diagnosis. Second Edition. Oxford: Blackwell Science, 2005. 578-589
2. Nutall T, Harvey R, McKeever P. A Colour Handbook of Skin Diseases of the Dog and Cat. Second Edition. Manson Publishing, 2009, UK. 136-137