terça-feira, 31 de maio de 2011

Informação sobre a nova vacina contra a Leishmaniose.

A Leishmaniose é provavelmente a doença infecciosa que mais afecta actualmente a saúde da população canina em geral. Sendo Portugal uma zona endémica de Leishmaniose, é uma doença cada vez mais diagnosticada e há muito que se anseia por um modo de prevenção efectivo que ajude a combater este flagelo.

A primeira vacina na Europa contra a leishmaniose canina já está disponível. Com o nome CaniLeish®, a Virbac lançou no dia 24 de Maio de 2011 a tão aguardada vacina. A Canileish® é uma vacina cuja eficácia foi demonstrada em vários estudos que incluíram um ensaio de campo em condições extremas. Esta vacina comprovou a sua eficácia, mostrando uma capacidade de reduzir em quatro vezes o risco de os pacientes desenvolverem a doença em zonas altamente endémicas.

A vacina da Leishmaniose pode ser administrada a partir dos seis meses de idade e recomendam-se dois reforços adicionais para além da inoculação inicial, com três semanas de intervalo.
Recomenda-se que seja realizado um teste de despiste rápido antes da vacinação para que se evite vacinar os animais já portadores da doença. O rappel (revacinação anual) é feito apenas com uma dose. Não deverão ser administradas outras vacinas com um intervalo inferior a 15 dias em relação à vacina em questão. Segundo os ensaios efectuados, a vacina não irá provocar qualquer tipo de reacção diferente das vacinas já existentes.

A vacina vem assim dar aos Médicos Veterinários um novo ânimo, mudando totalmente a nossa perspectiva preventiva e abrindo portas para um novo nível de protecção contra a Leishmaniose.


Fonte: Hospital Veterinário do Restelo

domingo, 8 de maio de 2011

A administração de insulina glargina a gatos com diabetes recém diagnosticada pode aumentar a probabilidade de remissão

A remissão da diabetes, definida como a reversão de um estado de hiperglicemia para um estado de normoglicemia num doente diabético depois de interromper o tratamento com insulina, está descrita em gatos com a diabetes mellitus não complicada ou no tratamento da cetoacidose diabética. Os autores de trabalhos prévios sugeriram que o sucesso do controlo glicémico ou o tipo de insulina administrada podem afectar a taxa de remissão. O objectivo deste trabalho foi determinar e comparar a probabilidade de remissão em gatos com diabetes diagnosticada recentemente, quando tratados com insulina glargina, insulina protamina de zinco (PZI), ou insulina lente administrada por via subcutânea duas vezes/dia.
Para este ensaio prospectivo, foram seleccionados 24 gatos em que a diabetes mellitus tinha sido diagnosticada nas 24 horas anteriores ao seu recrutamento. A avaliação inicial incluiu a realização de um exame físico, perfil analítico sérico, análise de urina e cultura bacteriana da urina. Foi também determinada a concentração de frutosamina em todos os animais. Todos os gatos com doenças graves concomitantes foram excluídos do ensaio.
Os doentes incluídos foram 21 gatos com uma ingestão de alimento adequada e sem sinais sistémicos, permitindo a administração de uma das três insulinas, e três gatos que necessitaram de fluidoterapia intravenosa e insulina regular antes de ser possível iniciar a administração subcutânea. Os gatos foram distribuídos pelos três grupos de tratamento com insulina, numa tentativa de que os grupos fossem homogéneos no que respeita ao genótipo e ao eventual tratamento com corticoesteróides.
A dose inicial de insulina subcutânea foi de 0.25 a 0.5 UI/Kg, determinada pela concentração sérica de glucose [<360 mg/dL (<20 mmol/L) vs. > 360 mg/dL, respectivamente]. Todos os gatos foram alimentados com uma dieta idêntica, de teor ultra-baixo de hidratos de carbono e teor elevado de proteína (a incapacidade para ingerir esta dieta constitui um factor de exclusão), e foram realizadas curvas de glicemia em intervalos regulares, com a dose de insulina ajustadas seguindo uma tabela de determinação de doses específica para ensaios.
A remissão diabética foi definida como concentrações séricas de glucose dentro dos limites de referência, durante duas semanas depois de interromper a administração de insulina.
Neste trabalho, os gatos tratados com insulina glargina apresentaram concentrações sanguíneas médias diárias de glucose significativamente inferiores às dos gatos tratados com PZI ou com insulina lente. De forma concordante com este achado, os gatos tratados com insulina glargina apresentaram concentrações séricas de frutosamina no dia 56 significativamente inferiores às dos animais dos restantes grupos de tratamento. O número de gatos que atingiu a remissão diabética foi de 100% (n=8) no grupo tratado com insulina glargina, comparativamente a 38% (n=3) no grupo tratado com PZI e a 25% (n=2) no grupo tratado com insulina lente. Entre os gatos que no dia 17 não tinham atingido a remissão diabética, foi mais provável que atingissem a remissão os que apresentavam concentrações sanguíneas médias de glucose mais baixas durante 12 horas ( < 288 mg/dL [16 mmol/L]). Embora alguns gatos incluídos no grupo tratado com insulina glargina tivessem desenvolvido hiperglicemia quando tratados de acordo com a tabela de doses do ensaio, nenhum apresentou sinais clínicos relacionados com essa alteração.
A probabilidade de atingir a remissão diabética não se associou à raça. Todos os gatos tratados anteriormente com glucocorticóides atingiram a remissão.

Comentário:
Os resultados deste ensaio suportam a hipótese de que quando administrada a gatos com diabetes diagnosticada recentemente, a insulina glargina resulta numa taxa mais elevada de remissão diabética a curto prazo do que os outros tipos de insulina. Neste estudo, a insulina glargina foi administrada duas vezes/dia (vs. uma vez/dia como em ensaios anteriores), o que pode explicar o aumento referido do sucesso da remissão. No entanto, permitiu também aos autores concluir que uma dose de 0.25 a 0.5 UI/Kg duas vezes/dia é segura e eficaz para conseguir o controlo da glicemia.
Os ensaios realizados in vitro e in vivo no homem e em gatos diabéticos sugeriram que é pouco provável que os doentes tenham perdido a função de todas as células pancreáticas beta quando a doença é diagnosticada pela primeira vez. Um controlo precoce e agressivo da glicemia pode proteger as células funcionais remanescentes de uma glucotoxicidade prolongada, pode permitir uma recuperação parcial de uma agressão não identificada que tenha resultado inicialmente em diabetes mellitus e pode eventualmente permitir a reversão para um estado não insulino-dependente (remissão da diabetes).
No entanto, se esta teoria for verdadeira, qualquer regime de insulina que resulte num controlo estrito da glicemia deve produzir os mesmos resultados. A vantagem teórica da insulina glargina comparativamente a outras insulinas usadas comummente em gatos, é a duração de acção mais consistente sem provocar uma alteração brusca, permitindo assim um controlo apertado da concentração sérica de glucose com um risco mínimo de uma hipoglicemia clinicamente relevante. A administração concomitante de uma dieta adequada à diabetes (teor baixo de hidratos de carbono) previne grandes flutuações da concentração sanguínea de glucose ao longo do dia e pode ainda prevenir a glucotoxicidade, minimizando a utilização de células beta em circunstâncias de necessidades elevadas de insulina.
Os possíveis erros associados a este ensaio incluem a distribuição não aleatória dos gatos pelos três grupos de tratamento, a distribuição não intencional de doentes inicialmente cetoacidóticos nos grupos tratados com outras insulinas que não a glargina, um período de monitorização relativamente curto (112 dias) e uma definição menos rígida da remissão do que as de outros ensaios (duas semanas sem insulina vs. quatro semanas). Embora os gatos que se apresentam inicialmente com cetoacidose possam também atingir a remissão diabética, a sua taxa de recaída (necessitando novamente de terapêutica com insulina) pode ser superior à dos gatos com diabetes não complicada.
É necessário um período de seguimento mais longo antes de ser possível formular qualquer conclusão sobre a taxa de sucesso de qualquer tipo de insulina em conseguir induzir um estado de remissão permanente.

Fonte: Revista Veterinary Medicine Março/Abril 2011